RENATO PAIO

 

AS PERIPÉCIAS DO PALHAÇO TCHUTCHUCO

UM ENTUSIASMADO REMÉDIO PARA COMBATER ÀS PERIPÉCIAS DE UMA HISTÓRIA FABRICADA

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 Critica Por Alexandre Mate 

 

A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.(acerca da cobertura escandalosa do 11 de Setembro) frase em o 18 de Brumário. Karl Marx.

 

 

Em um domingo de inverno, por volta do meio-dia, o sol não era causticante. A Praça Capitão Pedro P. Cunha, no Jardim Paulista, poucos minutos antes de o espetáculo Peripécias (com Tchutchuco) ser apresentado estava quase vazia...

 

 

A praça vazia, mas muitos fieis estavam apinhados, nos umbrais da porta, fora do culto da missa apresentada na Paróquia Santuário São Judas Tadeu. Os muitos cheiros no ar: de churrasco, de pipoca, de churro, pré-antecipavam que as gulodices da praça estavam prestes a serem devoradas. No centro da praça, sentado em um banquinho, Renato Paio, ou melhor Tchutchuco, tranquilamente, se maquiava.

 

 

Maquiava-se e muito falava o palhaço. Esse ritual transformava-se no cortejo, sem sair do lugar, do carismático artísta. Sobre a lona plastificada e tendo ao fundo uma cortina vermelha, sobre a qual havia a reprodução do círculo da bandeira brasileira, em cuja faixa central, lia-se Trupe de Peripécias (nome do grupo da cidade de Osasco (SP), Tchutchuco atentamente-alheio ao mundo se maquiava.

 

 

Ao perceber que a missa havia terminado, claro, começou a falar mais alto e a fazer algumas perguntas, como quem não quer nada... Desse modo, e já quase totalmente paramentado, Tchutchuco - no sentido de homenagear a um de seus mestres: o palhaço Picolino -, diz um poema apresentando determinadas peripécias de um palhaço. Bela homenagem! Real homenagem!...

 

 

 

 

 

                                                                                                     PALHACO PICOLINO

 

 

 

 

 

 

A praça já cheia, Tchutchuco, que padece de uma certa dislexia, troca as vogais de muitas palavras, como, por exemplo, dentre tantas outras - patiló (para paletó); e transita com permanentes ambiguidades das palavras: crianças e crianços... Conquista irremediavelmente os seus “assistentes”.

 

 

É certo que, depois de 10 minutos de espetáculos, adultos e crianças estão ali prestes a ajuda-lo em seus números tradicionais de circo: malabares, chicote, monociclo, equilíbrio... Todos, ao serem solicitados, participam. De certa forma, o palhaço forma uma dupla com o público. Tanto quando executa o prometido quando não o faz (a promessa não cumprida é especialmente importante para prender a atenção do espectador à obra), Tchutchuco vai angariando a cumplicidade dos presentes.

 

 

Não percebi ninguém arredando o pé do espetáculo, apesar da fome como lembrava Tchutchuco. Ao presenciar a alegria de tantos adultos e crianças, e o horror apresentado na televisão, pensava em como seria simples ao poder constituído promover a alegria da população e oferecer “pérolas aos povos”.

 

 

Um artista tem esse poder de encantamento: Tchutchuco encantou a todos, em cravados 53 minutos de um belo domingo, de meio de inverno. Estou certo de que se o número de minutos dobrasse, o entusiasmo seria o mesmo!Parabéns à equipe de seleção, à equipe de programação e à Diretoria Cultural da Fundação Cultural Cassiano Ricardo pela realização de mais uma edição (a 26ª) do Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba.